Thursday, September 17, 2009

Bangladesh

Fim de tarde em Kuakata, provincia de Borisal


Rio Buriganga, Dhaka


Mulher de Sari em Khulna


a caminho de Kuakata


paisagem inundada do Bangladesh, a caminho de Jessore



Dia 100: 9 Setembro de 2009 – Borisal para Kuakata
, Bangladesh

O capitão do "rocket boat" bate à porta da minha cabine às 5h40. Abro e ele diz-me "Good morning Sir! We arrived Borisal! We leave at six." Arrumo as coisas rapidamente e desembarco no pequeno cais de Borisal, uma cidade portuária a sul de Dhaka. É noite cerrada, não há turistas claro... estou no Bangladesh.
Um rapaz a mascar tabaco com uma t-shirt esburacada e queimada do sol cumprimenta-me: "Good morning Sir! Want Rickshaw?" Estou demasiado sonolento para pensar, ler as páginas copiadas do Lonely Planet ou andar pelas ruas lamacentas de Borisal à procura do autocarro para Kuakata. Digo-lhe monossilábico "Kuakata! Bus!" e sigo extremamente desconfortável num riquexo para a estação de autocarros sul, um descampado lamacento e deserto onde dezenas de autocarros ferrugentos exibem os seus destinos em Bengali. Olho para o rapaz do riquexo e pergunto-lhe qual deles vai para Kuakata
"Which bus goes to Kuakata?"
ele responde "Yes Sir! Bus!"
"Which bus?"
"Yes Bus!
Desisto, pago-lhe 50 takas (50 cêntimos) e vou a uma das barracas de estrada perguntar.
Mais tarde embarco num autocarro lotado. Toda a gente olha fixamente para mim. Homens brancos no Bangladesh são uma raridade. É o acontecimento do dia num país que vê apenas algumas centenas de turistas por ano.
Seguimos para sul numa estrada asfaltada pelo meio dos campos alagados de arroz. Vejo uma placa a dizer "Kuakata 97 km" o que me faz questionar o Lonely planet que diz que a viagem demora 4 a 5 horas. A esta velocidade nesta estrada não devemos demorar mais que 2 horas. A resposta a este enigma revelou-se uns 20 km a sul de Borisal.
O Bangladesh é o país onde desaguam o rio Ganges e o rio Brahmaputra, dois dos maiores rios da Ásia cujos estuários ocupam grande percentagem da área total do país. Na altura das monções os rios funcionam no máximo do caudal e toda a área do estuário fica alagada. As monções são entre Julho e Setembro, ou seja, agora.
Passamos a cidade de Patuakhali e a estrada termina no que me parece ser um cais. Um rio interrompe a estrada e o autocarro pára. Ninguém sai... Na outra margem um cais semelhante, no rio um barco a libertar um fumo negro denso, transporta um autocarro, um tractor e várias motas. É o ferry que faz a ligação entre margens. Atraca no nosso cais, a "carga segue caminho" e nós subimos ao barco plataforma. Uns 300m depois estamos à outra margem e continuamos para sul. Tivemos sorte pois o barco sai quando tem carga suficiente, isto é, quando não cabe mais nada.
Mais 10 km para sul novo ferry; desta vez parado na margem sul. Aqui todos os passageiros do autocarro saem para conversar e beber chá nas barracas de estrada. Saio tambem. Sou a novidade da vila. Especialmente as crianças que correm para me ver e ficar a olhar fixamente. Vários rapazes abordam-me para me perguntar a nacionalidade das mais diversas formas: Country? Address? Nationality? Where from? Alone? O motorista do autocarro oferece-me um chá e com um tom de orgulho apresenta-me à plateia como amigo dele.
O barco chega e embarcamos. Mais uma travessia e mais alguns km até ao novo ferry. Percebo as 4 ou 5 horas e duvido que consigamos.
Novo cais, nova espera pelo ferry. Aqui conheço um rapaz que vai de moto para kuakata e oferece-se para me levar "faster than bus". Já só faltam 25 km e de moto posso parar quando quiser para tirar fotos. Aceito e apanhamos um barco mais pequeno que tranporta passageiros e motos, sem ter que esperar pelo ferry dos carros.
Montado em cima da moto sabe-me bem ter saído daquele autocarro lento, lotado e húmido. Paramos para tirar fotos e reparo numa nuvem negra que se aproxima. Não passam sequer 5 minutos e começa a chover torrencialmente. A monção na sua fúria máxima. Guardo tudo o que é electrónico dentro dum saco estanque. Visto o impermeável para perceber que não é assim tão impermeável. Foram necessários apenas mais 10 minutos para ficar completamente ensopado. A estrada, agora de terra batida torna-se um lamaçal e tenho que sair da mota para não atolar... porque é que não fiquei no autocarro...

leituras: Alvin TOFFLER "Future Shock"

Wednesday, September 16, 2009

Nepal

Detalhe "Newari architecture" no hotel em Kathmandu


O meu irmão a analisar os 160m do desfiladeiro do rio Bhote Kosi, antes do salto...


Women's festival, Durbar square, Kathmandu


Baba no templo de Pashupatinath, Kathmandu

Terraços de arroz nos arredores de Pokhara

Dia 82: 22 Agosto de 2009 – Zhangmu, Tibete para Kathmandu, Nepal


Acordamos em Zhangmu, no Tibete, a última cidade na China antes de passar para o Nepal.
Zhangmu é uma cidade de fronteira numa ravina que desce do planalto tibetano a 5000 m para o planalto do Nepal, a 2000 m. Uma descida de 3000 metros em menos de 50 km em que a paisagem muda de um deserto árido e rochoso com picos nevados para uma floresta tropical densa e húmida. A "friendship highway", a estrada que liga Lhasa a Kathmandu, é um dos percursos terrestres mais fotogénicos que podem existir. Do céu azul turquesa do Tibete passamos para uma estrada que serpenteia desfiladeiros cobertos dum nevoeiro denso, que de quando em quando desvendam cascatas de centenas de metros de água gelada proveniente dos Himalaias.
Depois de um controle fronteiriço apertado, em que guardas chineses revistam câmeras fotográficas, postais, livros, souvenirs à procura de imagens do Dalai Lama e outros ícones Tibetanos, passamos para o Nepal. A diferença é drástica, não pelo cenário, mas pelo nivel de relax das pessoas. De guardas chinese Han tensos, mal encarados com perguntas tipo: Where is your guide!? Permit!!! Passport!!! Look straight!!! Go!!! NEXT!!! passamos para guardas sentados em poltronas de pele com a espuma a sair pelas costuras, a fumar cigarros e a sorrir "Where are you from? Portugal! nice! Welcome to Nepal! O Nepal é, declaradamente, a entrada num novo lugar, o sub continente indiano. Sinto-me aliviado de sair da China
Apanhamos uma pick up para Kathmandu com mais dois backpackers. Abro, pela primeira vez o guia Lonely Planet Nepal. Leio a introdução e percebo que entre muitas coisas, o Nepal é um destino de desportos radicais "eco", isto é, rafting selvagem, escalada por cascatas, btt downhill... e um que me chama particularmente a atenção, o maior Bungee Jump da Ásia, de 160 m, a 10km da fronteira com o Tibete. Pergunto ao motorista se sabe onde é. Ele diz-me: "Of course! It's there!" e aponta para uma ponte muito frágil de cabos de aço que atravessa o desfiladeiro do Rio Bhote Kosi. Nunca fiz bungee na minha vida. Gosto de sensações fortes. Olho para o meu irmão: Vamos saltar!...

leituras: Chris BONINGTON "Everest the Hard Way"

China

Detalhe na Cidade Proibida, Pequim


Estádio Olímpico "Bird's Nest" the Herzog & de Meuron, Pequim


"blossom flower tea", Pequim


Cidade antiga de Kashghar, Província de Xinjiang


Comerciante de gado, Kashghar, Xinjiang


Lago Karakul, Xinjiang, fronteira da China com o Paquistão, Afeganistão e Tajiquistão


Palácio Potala, Lhasa, Tibete


Mt. Qomolangma aka Mt. Everest, o topo do mundo a 8.848m, Tibete


Mulher Tibetana na "Friendship Highway" em direcção ao Nepal



Dia 71: 11 Agosto de 2009 – Lago Karakul, Xinjiang, China


Acordo às 7h com uma melodia que tem tanto de familiar como de distante, um toque de telemóvel. Há tanto tempo que não tenho telefone que simplesmente já não me lembrava da existência dos mesmos e do quanto comprometem a nossa liberdade. É o telemóvel do João Pedro, um amigo de longa data que vive na China há mais de dois anos. Fomos ter com ele a Shanghai, onde vive e trabalha. Tirou uma semana de férias para irmos juntos para Xinjiang, a província mais ocidental da China, conhecida como a nova fronteira, o portal de acesso a paises como o Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão, Afeganistão e Paquistão.
Xinjiang, embora dentro do país China, é uma região completamente distinta do resto da China, pela sua cultura maioritariamente muçulmana, os Uigurs. À semelhanca do Tibete, é uma região administrativa autónoma da China, que tem a particularidade de não ter um Dalai Lama e daí nunca aparecer nas brochuras turísticas ou notícias ocidentais, a não ser, claro, quando algo trágico acontece, que foi o caso no dia 5 de Julho em Urumqui, capital de Xinjiang, há um mês atrás.
Desde o início da viagem que falo com o João por mail acerca do que iríamos fazer juntos, onde íamos, como iríamos... Ele, viajante convicto, já tinha visitado quase todas as províncias da China à excepção de Xinjiang. Eu proponho: "Vamos lá!" Após os motins em Urumqui no início de Julho, os media ocidentais inundaram as notícias e os emails de imagens bélicas da província de Xinjiang. O João envia-me um email com essas mesmas imagens e diz-me por telefone: "Aquilo está feio..." e pensamos num plano B, que passava por viajar por províncias no Sul da China, às quais ele já tinha ido, e, desta forma, ele não viria. Passam-se alguns dias e já em Pequim, alguns dias antes de partir para a Coreia do Norte, volto a falar com por telefone: "John! Marca essas férias. Vamos juntos para Xinjiang!"
Atendo o telefone do João. É o Horácio, o pai do João a perguntar onde estávamos pois tinha acabado de saber que houvera novos motins em Urumqui. Um avião vindo do Afeganistão, suspeito de conter bombas, foi desviado e gerou uma manifestação Uigur e consequentes "acções tranquilizantes" por parte dos militares chineses Han que patrulham intensamente a cidade num estado de sítio permanente.
Digo-lhe, tranquilizando-o, que estamos no Lago Karakul, perto da fronteira com o Paquistão, a mais de 15oo km de Urumqui, longe de quaisquer tumultos.
Saio do Yurt (tenda nómada) onde dormíamos e vou à procura do João para lhe contar. Ele está a tirar fotos na margem do Lago Karakul, com um chapéu Kazakh e todas as roupas que trouxe vestidas. Estamos a 3600 m de altitude e a temperatura ronda os 5 graus. Conto-lhe sobre o telefonema. Conversamos sobre as tensões Han-Uighur enquanto presenciamos o nascer do sol no Karakul, rodeado por cumes nevados com mais de 7000 metros, sem dúvida um dos lagos mais bonitos em que estive, numa província em estado de sítio...

leituras: Bradley K. MARTIN "Under the Loving Care of the Fatherly Leader: North Korea and the Kim Dynasty" (só comecei a ler este livro após regressar da Coreia do Norte, uma vez que é proibido dentro País)

Coreia do Norte

Painel do "Great Leader Kim Il Sung", nas ruas de PyongYang


As avenidas de 16 faixas num dia de semana, PyongYang


Guardas na DMZ (Zona desmilitarizada entre Coreias), Panmunjom


Norte Coreanas visitam a casa onde o Great Leader nasceu, Mangyondae


Cooperativa agrícola em Wonsan


Mulheres em traje de cerimónia preparam-se para a dança comemorativa do Victory's day



Dia 61: 1 Agosto de 2009 – PyongYang, Coreia do Norte para Dandong, China


Após o controle de fronteira em Sinuiju, Coreia do Norte cruzamos o Rio Yalu para Dandong, China. O sentimento é, e nunca o esperaria, de alívio de chegar à China. Alívio de voltar a ser um ser vivo, livre e com direito a pensar e expressar esse mesmo pensamento.
Em viagem existem aqueles momentos chave, sejam eles no princípio, meio, fim ou mesmo pós viagem (o que é mais comum em viagens de curta duração) em que percebemos que todo o esforço, todo o dinheiro gasto, todos os recursos dispensados para a realização da mesma foram pagos, foram repostos com uma experiência única e inigualável. A Coreia do Norte representou esse equilíbrio nesta viagem... E embora ainda tenha mais dois meses "de estrada" pela frente, tudo o que vier será um acrescento. A viagem está paga!
Uma semana na Coreia do Norte foi o suficiente e, o máximo que recomendo, para visitar o que é o país mais hermeticamente fechado do mundo e da realidade como a conhecemos.
Para um viajante insaciado e intrépido é natural começar a agrupar mentalmente os países segundo certas generalizações e imagens colhidas ao longo das viagens "esta praia faz-me lembrar o Caribe", ... "esta paisagem faz-me lembrar o Atlas Marroquino ou o Planalto Andino", ..."é uma típica cidade do Sudeste Asiático".... Este tipo de raciocínio surge naturalmente como surgem os temas nas prateleiras de uma livraria ou biblioteca: livros de ficção, poesia, científicos, arte e por aí. Se tivesse que arrumar o país "Coreia do Norte" na minha biblioteca pessoal este teria decidamemente uma prateleira própria, mais até teria uma sala própria, e na outra sala estariam todos os outros países.
O turismo na Coreia do Norte é uma jogada política do governo Norte Coreano para mostrar "abertura ao mundo ocidental" por interesses próprios. A Coreia do Norte nao quer turistas, pois estes são ameaças ao "paraíso" socialista que lá se vive e mancham o regime com a sua sujidade e imperialismo capitalista.
Desta forma, viajar pela Coreia do Norte é algo semelhante a ir a um cinema ver um filme - obra prima de Propaganda - em que a KITC (Korean International Tourism Company), promotora e realizadora do filme, nos conduz ao nosso lugar, pressiona o play, mostra apenas as partes que lhe interessa, censurando todas as outras, permanece durante toda a projecção do filme, controla a direcção do nosso olhar, controla a sala e todas as pessoas que lá trabalham, não permite diálogo durante o filme e quando terminado, conduz-nos à saída, isto é, a China.

No entanto, por mais exaustivo e eficiente que seja o controle, os turistas que vão à Coreia do Norte vão ler as entrelinhas das legendas, as partes que não é possível cortar, imagens e sensações dadas por um sexto sentido muito mais apurado que permite ter uma ideia do que lá se passa, e que, apenas torna tudo muito mais desafiante e gratificante.
Nao é um destino para gostar, é um destino para nos mudar, para mudar a nossa percepção do mundo e de nós próprios, para nos explicitar, da forma mais arrebatadora, a sorte que temos de não ter nascido lá...


leituras: Robert BYRON "The road to Oxiana"

Thursday, September 10, 2009

Mongolia

Ulan Bator: cavaleiros no Naadam Festival


A caminho do deserto de Elsen Tasarkhai


Acampamento no Lago Ugii


Criança Mongol no lago Ugii


Águia real no mosteiro Erdenezuu


O nosso "hotel" em Lun


Dia 44: 15 julho de 2009 – Lago Ugii para Lun, Mongólia

Acordamos na margem do Lago Ugii, a uns 200 km a Oeste de Ulan Bator.
Arrumamos a tenda enquanto o Batai, o nosso guia Mongol, um estudante de Gestão de Ulan Bator, nos prepara um pequeno almoço. Comemos em frente ao lago, sob um céu cinzento e uma paisagem completamente verde.
Seguimos para Este, em direcção a Lun, por uma auto estrada Mongol, ou seja um vale com vários quilómetros de largura onde carros, camiões, motas e gado circulam livremente por caminhos de terra batida ou simplesmente descampado .
Paramos em Dashinchilen, uma "cidade" que me faz lembrar o Wild West retratado nos filmes Norte Americanos de cowboys: uma única rua de terra batida e areia, casas de madeira, um mini mercado, um bar com uma mesa de snooker no exterior, cavalos amarrados e algumas motos. O nosso jipe é o único carro na cidade. Tomamos banho nos balneários da cidade, dois chuveiros ao lado do barbeiro. Tivémos sorte pois só funcionam duas vezes por semana, hoje (quarta-feira) e domingo. Almoçamos no único restaurante de Dashinchilen, "dumplings" com carne. Vou comprar uma cerveja ao mini mercado para acompanhar; no restaurante só há chá ou água da torneira.

Chegamos a Lun a meio da tarde. O chefe do "Ger" onde vamos dormir espera-nos de mota num posto de gasolina na estrada principal. Dali guia-nos ao seu "hotel", um acampamento de 2 tendas com vista panorâmica para um vale irrigado por um rio. Milhares de cabras, vacas, cavalos pastam num silêncio absoluto numa das paisagens mais bonitas e simples que vi nesta viagem.




Russia

White nights, S.Petersburgo


Hermitage, S.Petersburgo


Caviar a bordo do Rossiya, o comboio transiberiano que liga Moscovo a Vladivostok, 9 289km, conhecido por ser o transporte ferroviário mais longo do mundo


Lago Baikal, Irkutsk


Dia 32: 02 julho de 2009 – a bordo do Rossiya, Sibéria Russa


(agora com o meu irmão, Pedro Cabeços, que começou a viagem em S.Petersburgo e viaja comigo até Kathmandu, no Nepal)
Na carruagem restaurante conhecemos a Olga, uma russa de Chita que regressa a casa de férias e que fala bem Inglês, algo raro na Rússia. A Olga é uma professora universitária que dá aulas em S.Petersburgo e apresentou a dissertação de doutoramento mais original que ouvi até à data: "Cultural History of Underwear in Soviet Russia". E ali estamos, a bordo do comboio mais longo da terra atentos a ouvi-la falar do tema enquanto acompanhamos com cerveja russa.
Mais tarde juntam-se a nós o Alek e a Svetlana, que seguem para o Ulan Ude para acampar na margem do Lago Baikal. O Alek apresenta-se e no segundo seguinte grita: Vodka! e serve um copo a cada um de nós. Nazdrovia! (brinde em russo) e bota abaixo. De seguida serve-nos um copo de sumo de tomate, algo que os russos fazem sempre que tomam vodka para acalmar o ardor na garganta. Bebemos o sumo de tomate e o Alek grita novamente Vodka! e serve-nos mais vodka... novamente seguido de sumo de tomate. O procedimento continua e o Alek fala connosco em russo puro enquanto a Olga vai traduzindo algumas partes. A determinada altura o vocabulário do Alek estende-se a mais do uma única palavra e passa a 5 "In Ruxa wii trink vodka!" e serve-nos mais vodka e assegura-se de que a bebemos... claro que passado algumas horas o restaurante fecha e somos expulsos para o compartimento que fica no início das carruagens onde acabamos a cantar russo, português e outras línguas não oficiais.
Acordo no dia seguinte com uma cabeça pesada e vou para a carruagem restaurante à procura de me hidratar e de uma mesa para escrever o diário. Peço a minha água e o meu café e sento-me com o diário aberto na frente enquanto olho a paisagem de taiga russa, um verde interminável e monótono de bereosas , a árvore nacional da Rússia. Chega o meu café, a minha água e... oh não, o Alek, a Svetlana e mais um casal amigo. Sentam-se na minha mesa, empurram-me para um canto e pedem copos. À excepção da Svetlana, todos estão bêbados e servem-me vodka. Digo-lhes que acabei de acordar e são 9h00 da manhã. No! No! Trink Yes!!! No problem!!! Wii trink since six!!! Vodka! Nazdrovia!...

leituras: Jack Kerouac "lonesome traveler"

Balticos: Lituania, Letonia e Estonia

Pousada em Nida, Península de Neringa, Lituânia


Prova de iguarias Lituanas como o Borscht frio, ou as empadas Kibinai, com os meus couchhosts, Edgaras e Ausra. de Vilnius


Empregadas de mesa num café em Jurmala, Letónia


Centro de Riga, Letónia


Praça central da cidade universitária de Tartu, Estónia



Dia 22: 23 junho de 2009 – de Nida, Lituânia para Riga ,Letónia


Acordo em Nida, na península de Neringa na Lituânia, uma das praias recomendadas da Lituânia
É o pico do Verão, mas os 8 graus fazem com que Nida não seja propriamente uma das praias "Top ten" da minha vida, nem sequer o consigo reconhecer como praia uma vez que estou de calças e "sweat-shirt."
Sigo de autocarro para Jielwicka, onde apanho o "ferry boat" para Klapeida. De Klaipeda apanho um novo autocarro para Riga, na Letónia, uma viagem de 5 horas em autoestrada que faço integralmente a dormir para acordar na capital mais em voga dos Bálticos. Hoje é véspera do Ligonis, um importante feriado do calendário Gregoriano, o que significa Dia de Festa!
A estação de autocarros está apinhada de gente: grupos mistos de todas as idades, com mochilas e sacos recheados de cerveja e vodka, apanham autocarros e comboios para o "countryside" para fazerem piqueniques naquela que é a noite mais curta do ano. Falo com um grupo e dizem-me que ninguém fica em Riga. Tenho que sair da capital se quero encontrar festa.
Alojo-me no "Naughty Squirrel" Argonauts Hostel enquanto espero pela turma brasileira que aterra mais tarde.
22h Aeroporto de Riga: Marcelo Sampaio (grande aquisição e grande amigo da minha temporada no Rio de Janeiro) chega com a sua turma de cariocas, Eduardo Slivskin e os irmaos Rafael e Leandro Abreu para rumarmos para a noite, que segundo os locais, é em Sigulda, uma pequena cidade a uma hora de Riga. Num carro alugado seguimos para uma noite memorável num festival popular onde nós somos os únicos estrangeiros. Milhares de pessoas cantam, dançam e bebem até ao amanhecer, o que acontece pelas 3 da manhã...

Thursday, September 3, 2009

Bielorrussia

Plano de viagem proposto para o prémio Távora


Parque infantil num dos bairros de Minsk


O clássico VAZ 2102 "Zhiguli" (conhecido na Europa Ocidental como LADA), num bairro periférico de Minsk.
Em segundo plano, os tipicos blocos habitacionais de alta densidade que se agrupam em mikrorayons
e compõem 90% da paisagem urbana das cidades soviéticas do pós II Guerra Mundial


"Babuskas" Bielorussas numa aldeia perto de Minsk


16ºDia: 17 junho de 2009 – de Vilnius, Lituania para Minsk ,Bielorrusia

Bielorrusia... Porquê?
Antes de fazer algum "trabalho de casa" sobre este país, a minha imagem da Bielorrúsia era de um irmão pobre da antiga União Soviética, frio e cinzento, cujos habitantes tinham um único objectivo comum, sair de lá.
A viagem por terra até à China via transiberiano é um sonho que tem raizes no início do novo milénio, algures pelo 1º Interrail pela Europa, quando me apercebi o quão acessivel e gratificante é viajar de comboio. O sonho existia, agora precisava de o materializar.
Em Outubro de 2008, uma colega de trabalho, apresenta-me a brochura de candidatura ao Prémio Távora ("Isto faz o teu perfil!" diz-me a Inês), um concurso promovido pela Ordem dos Arquitectos Portuguesa, que oferece uma bolsa de 5000 euros ao melhor projecto de viagem apresentado. Este projecto tinha naturalmente o cerne na área da arquitectura e urbanismo. A ideia seria enquadrar a viagem que tinha em mente há vários anos com uma investigação séria conduzida "na estrada". É neste contexto que surge o projecto-proposta "Bloco de Leste, de Berlim a PyongYang em busca da cidade ideal comunista", e é neste projecto que surge a passagem por Minsk, uma das cidades arrasadas na segunda grande guerra e reconstruida massivamente segundo a doutrina Socialista de Moscovo.
Não ganhei o prémio, mas fiz a viagem, e passei por Minsk... e foi uma revelação.

Wednesday, September 2, 2009

Polonia

Hard Rock Café totem com Palácio da Cultura e da Ciência em fundo
Varsóvia Antiga

Detalhe num bairro pobre da periferia de Varsóvia

Rapariga polaca no shopping "Golden terraces"


10ºDia: 11 junho de 2009 – Varsóvia, Polónia

Chego a Varsóvia depois de uma noite bem dormida a bordo do Jan Kiepura, o comboio que sai da Holanda em direcção a Moscovo. A bordo da minha cabine vinham mais dois polacos que me oferecem cerveja e vodka.
Na estação de "Warszawa Centralna" esperam-me a Klaudia e o Radek, dois "couchsurfers" que contactei alguns dias antes para garantir alojamento gratuito e, melhor que isso, com gente da terra.
O "couchsurfing" é uma network tipo facebook ou hi5 mas com uma finalidade mais palpável que estes. Fazemos um profile em que oferecemos o nosso sofá a viajantes que também estejam na rede. Existe sempre a possibilidade de apenas encontrar "meet for coffee" ou simplesmente rejeitar os pedidos. Em troca temos um mundo de "couchs" espalhados pelo mundo inteiro aos quais podemos pedir uma estadia gratuita.
O "couchsurfing" é a resposta a viajantes do mundo inteiro que procuram conhecer pessoas dos lugares que visitam e naturalmente obter uma ideia mais apurada de como lá se vive.
São estudantes universitários (ele de Filosofia e ela de Biologia) e vivem num apartamento básico partilhado com mais duas estudantes que não chego a conhecer.
O prédio, na Avenida Pawla II, é um dos típicos blocos soviéticos cinzas e taciturnos que são retratados nos filmes do Roman Polansky. Um lobby de entrada gradeado, escuro e com cheiro a bolor dá acesso ao interior do prédio que segue a categoria do lobby.
Pouso a mochila na sala e seguimos para o shopping "Golden Terraces" para almoçar.
Conversamos de viagens e de planos para o futuro e pouco depois eles voltam para casa para estudar e eu fico no shopping a ver uma Exposição da World Press Photo 2009, enquanto tiro apontamentos de cidades e províncias fotografadas.
Do shopping sigo para o bairro antigo da cidade para recordar o que já tinha visto em 2002, quando estive pela primeira vez na Polónia em interrail. Mas desta vez com um olho mais treinado e atento...

leituras: Timothy Ferriss "4-hour workweek"