Thursday, December 31, 2009

India


Vendedor de Flores, Bombaim


Templo Tamil em Mamalapuram, Chennai


Mulher a rezar na margem do Ganges, Varanasi


Mendigos, Varanasi


Mesquita masjid, Taj Mahal, Agra

Taj Mahal visto do Great Gate, Darwaza-i rauza, Agra

Traseira de um autocarro, Calcutá

Dia 122: 1 de Outubro de 2009 – Agra, India
5h00- Noite cerrada, acordo suado e impertinente com o despertador do telemóvel depois de uma noite desconfortável e mal dormida. Duche frio, ponho o pólo comprado há um mês atrás no Bangladesh, os calções falsos comprados no Sri Lanka há umas semanas atrás, as sandálias havainas compradas no Brasil há uns anos e os óculos Ray-Ban falsos comprados há 2 meses atrás na China. A indumentária completa não chega aos 10 euros. Em viagem é totalmente desaconselhado levar peças caras ou com valor sentimental. O melhor é levar o mínimo e ir comprando roupa quase descartável pelo caminho. Perdi, roubaram, esqueci-me no estendal ou na lavandaria… faz parte da viagem e mais vale não sofrer com isso.

Saio da Guesthouse Sai Palace com todos a dormir. Já na rua vejo os mendigos, as crianças, os seguranças de lojas a dormir ao relento no passeio, os motoristas de riquexós a dormir dentro dos mesmos, um idoso de sari a tomar o seu duche matinal de cócoras numa bica no passeio, uma vaca despreocupada a caminhar lentamente pela estrada. Estou na Índia, o segundo país mais populoso do Mundo, e, onde muitos não têm um tecto para se abrigar. A rua é a casa do povo.

Chego à bilheteira do West Gate às 5h40, ainda está fechada, só abre daqui a 20 minutos, sou o primeiro a chegar, quero ser o primeiro a entrar. Estou à porta de uma das novas maravilhas do mundo, O Taj Mahal, e a experiência de ver outras maravilhas do mundo diz-me que não vou ser o único, que não existem épocas baixas. Por dia o Tal Mahal recebe mais de 10 000 pessoas de todo o mundo, todos os dias, o ano inteiro. Todas vão querer fazer as suas fotos, comprar os seus souvenirs, visitar os museus, fazer comentários… e eu sou apenas mais um, mas um que gosta de ter o seu espaço e tempo para fazer as fotos, um desenho daquele detalhe, umas notas no diário e perceber a energia do lugar sem filas, esperas, encontrões ou 10 000 pessoas nos planos que quero fotografar.

Compro o meu bilhete já com algumas dezenas de pessoas na fila e apresso-me para entrar no recinto. Uma primeira praça simétrica conduz-me ao Great Gate, o Darwaza-i rauza, onde, tenho pela primeira vez, uma vista desimpedida das cúpulas branco pérola do Mausoléu mais icónico do Mundo. Faço as minhas fotos com calma enquanto chegam centenas de indianos e turistas de toda a parte do mundo, Americanos, Europeus, Japoneses, Chineses, Árabes, Australianos…

O Taj Mahal é sem dúvida uma maravilha do mundo, e este estatuto sobressai pelo facto de ser na Índia. Num país de cidades sobrepovoadas, imundas de lixo e fezes de vaca, terrivelmente quentes e mal cheirosas, edifícios a ruir, restaurantes gordurosos, água venenosa, trânsito caótico, vendedores invasivos e sem escrúpulos, um destino em que a nossa existência se torna basicamente uma sobrevivência, o Taj Mahal é o oposto de tudo isto. Um jardim espaçoso e imaculado, espelhos de água cristalina, um piso de mármore polido onde somos obrigados a andar descalços, e uma simetria clássica de um edifício que é o excilibris da arquitectura Mughal.

O Taj Mahal é aquele lugar místico em que nos voltamos para dentro, que nos faz pensar na nossa vida, na nossa própria existência e sentido do mundo. Sento-me em frente ao Taj Mahal neste ultimo dia da viagem com que tanto sonhei e que vê o seu epílogo neste éden. Faço um rewind mental das coisas que vivi na Índia, das cerimónias dos mortos no Ganges em Varanasi, dos mendigos em estado post-mortem em Calcutá, dos indianos que conversei nas extensas viagens de comboio, dos pratos picantes e oleosos comidos com a mão direita, dos templos cravados na rocha em Mamalapuram, da odisseia de 40 horas de autocarro em autocarro de Chennai até Goa, do hippie que conheci e me tornei amigo em Anjuna, dos produtores e actores de cinema que conheci em Mumbai, da estação caótica de comboios de Dehli… mas também faço um rewind do que vivi desde o início desta viagem que comecei em Portugal, desde que comecei a viajar, desde aquele primeiro interrail há quase dez anos em que me apercebi que o mundo é um lugar tão rico e interessante para se conhecer. Em como existem sempre lugares melhores, piores, mas acima de tudo, diferentes dos que já conhecemos. A capacidade que, mesmo os lugares que já conhecemos nos podem oferecer outras experiências que não tivemos e a capacidade que têm de nos surpreender.

Este dia no Taj Mahal aconteceu há 3 meses, e escrever sobre ele parece que aconteceu há 3 anos atrás, pois continuo em viagem, desta vez em Moçambique, para onde vim viver um outro sonho, desta vez a dois, o de viver um período em África. Chego ao fim de 2009, um ano em que tudo aconteceu, satisfeito, realizado, tranquilo, com um check nos objectivos que me propus, e penso no próximo, 2010. O que quero fazer? Projectar? Escrever? Fotografar? Viajar? Sim, sim, sim e definitivamente Sim

Um obrigado aos que acompanharam a viagem, o blog e que continuam a pedir-me novidades, fotos, histórias.
Um 2010 de checks nos vossos objectivos
Leituras:
Mark Tully "India in Slow Motion"
Paul Theroux "The Elephanta Suite"

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