Monday, August 24, 2009

Portugal

Estação do Oriente - Lisboa

Estação de Vilar Formoso - Fronteira Portugal/Espanha

Dia 1: 2 junho de 2009 – Sud-expresso Lisboa – Paris
Embarco sorridente no comboio Sud-expresso, na Estação do Oriente em Lisboa. É uma terça feira e os passageiros do expresso para Paris são essencialmente “emigras” que dividem a vida entre França e Portugal. Sou dos poucos, senão único passageiro de mochila às costas.
Subimos ao comboio que faz esta ligação desde 1887, altura em que foi inaugurada como a primeira ligação rápida entre Inglaterra, França, Espanha e Portugal.
O sud-expresso é um clássico e uma referência para quem já fez ou vai fazer interrail, pois à excepção do Lusitânia para Madrid, é a única ligação ferroviária para fora do nosso país.
Paguei um extra para ir em couchette, alguns euros a mais para ir numa cabine fechada com 6 camas, lençois lavados e almofada. Sou o único na cabine até à proxima paragem. Olho pela janela enquanto envio as últimas mensagens de despedida através do telemóvel. A partir de Espanha desligo-o e ligo apenas esporadicamente para ver mensagens. Sou de opinião que Viajar é sem telemóvel ou blackberrys, laptops, msn. Uma das melhores regalias de viajar é a de ninguém saber onde andamos.
Entra o Califa na Cabine, um guineense sorridente que divide a vida entre Lisboa, onde tem mulher e duas filhas e Bordéus, onde trabalha a tempo inteiro. O Califa não vem sozinho. Com ele traz uma entidade que rapidamente se apodera de cada partícula de ar, e que acompanha fielmente o Califa para os corredores, bar e casa de banho, chamada Catinga. Como as carruagens são climatizadas as janelas estão seladas e eu tenho que me conformar com os novos hóspedes da cabine.
Nova paragem, novo hóspede na cabine. Trata-se de uma senhora de idade, obesa, de cabelo pintado e demasiado maquilhada, com um decote demasiado generoso para a sua idade. Traz várias malas e depressa me põe a mim e ao Califa a gerirmos o espaço para que todos os seus pertences fiquem debaixo da sua cama. De seguida, sem qualquer tipo de solicitação, começa a expor-nos toda a sua vida, de como estava doente e tomava 14 comprimidos por dia, de como o marido a tinha deixado por uma mulher mais nova, de como a filha já não falava como ela, de como não gostava do marido da filha... Assim que tentava focar a minha atenção no livro que tinha aberto na mão ela apressava-se a direccionar-me para o seu discurso para não perder pitada! Olho para o Califa em busca de salvação.
Nova paragem, novos hóspedes. Ouvimos gritos e correrias no corredor e o alvoroço vem na nossa direcção. Trata-se de uma jovem “emigra” com dois filhos, o Tomaz de 7 e a Emma de 3. Com a adrenalina ao máximo entram na cabine aos pontapés com as malas e a subir na escada que dá acesso às camas superiores. Ao monólogo da senhora idosa junta-se uma gritaria incessante pois a Emma está com medo e o Tomaz está no auge da energia aos pulos para cima do Califa ao mesmo tempo que se queixa do cheiro. A jovem mãe não dá conta das crianças e limpa o suor de desespero. São 17h30, saio da cabine: vou jantar!
Fico no bar até às 19h30, altura em que é servido o jantar, que faço acompanhar de bastante vinho para aguentar um novo round na minha cabine.
Volto mais tarde para a cabine insana, mas felizmente os pequenos já dormem, e o vinho ajuda-me a adormecer rapidamente.

leituras: Michael PALIN "Pole to Pole"

1 comment:

  1. hahah Catinga, meu camarada, é FODA!!! Uma pessoa com catinga é algo que até hoje não entra na minha cabeça... inacreditável!

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