Thursday, September 17, 2009

Bangladesh

Fim de tarde em Kuakata, provincia de Borisal


Rio Buriganga, Dhaka


Mulher de Sari em Khulna


a caminho de Kuakata


paisagem inundada do Bangladesh, a caminho de Jessore



Dia 100: 9 Setembro de 2009 – Borisal para Kuakata
, Bangladesh

O capitão do "rocket boat" bate à porta da minha cabine às 5h40. Abro e ele diz-me "Good morning Sir! We arrived Borisal! We leave at six." Arrumo as coisas rapidamente e desembarco no pequeno cais de Borisal, uma cidade portuária a sul de Dhaka. É noite cerrada, não há turistas claro... estou no Bangladesh.
Um rapaz a mascar tabaco com uma t-shirt esburacada e queimada do sol cumprimenta-me: "Good morning Sir! Want Rickshaw?" Estou demasiado sonolento para pensar, ler as páginas copiadas do Lonely Planet ou andar pelas ruas lamacentas de Borisal à procura do autocarro para Kuakata. Digo-lhe monossilábico "Kuakata! Bus!" e sigo extremamente desconfortável num riquexo para a estação de autocarros sul, um descampado lamacento e deserto onde dezenas de autocarros ferrugentos exibem os seus destinos em Bengali. Olho para o rapaz do riquexo e pergunto-lhe qual deles vai para Kuakata
"Which bus goes to Kuakata?"
ele responde "Yes Sir! Bus!"
"Which bus?"
"Yes Bus!
Desisto, pago-lhe 50 takas (50 cêntimos) e vou a uma das barracas de estrada perguntar.
Mais tarde embarco num autocarro lotado. Toda a gente olha fixamente para mim. Homens brancos no Bangladesh são uma raridade. É o acontecimento do dia num país que vê apenas algumas centenas de turistas por ano.
Seguimos para sul numa estrada asfaltada pelo meio dos campos alagados de arroz. Vejo uma placa a dizer "Kuakata 97 km" o que me faz questionar o Lonely planet que diz que a viagem demora 4 a 5 horas. A esta velocidade nesta estrada não devemos demorar mais que 2 horas. A resposta a este enigma revelou-se uns 20 km a sul de Borisal.
O Bangladesh é o país onde desaguam o rio Ganges e o rio Brahmaputra, dois dos maiores rios da Ásia cujos estuários ocupam grande percentagem da área total do país. Na altura das monções os rios funcionam no máximo do caudal e toda a área do estuário fica alagada. As monções são entre Julho e Setembro, ou seja, agora.
Passamos a cidade de Patuakhali e a estrada termina no que me parece ser um cais. Um rio interrompe a estrada e o autocarro pára. Ninguém sai... Na outra margem um cais semelhante, no rio um barco a libertar um fumo negro denso, transporta um autocarro, um tractor e várias motas. É o ferry que faz a ligação entre margens. Atraca no nosso cais, a "carga segue caminho" e nós subimos ao barco plataforma. Uns 300m depois estamos à outra margem e continuamos para sul. Tivemos sorte pois o barco sai quando tem carga suficiente, isto é, quando não cabe mais nada.
Mais 10 km para sul novo ferry; desta vez parado na margem sul. Aqui todos os passageiros do autocarro saem para conversar e beber chá nas barracas de estrada. Saio tambem. Sou a novidade da vila. Especialmente as crianças que correm para me ver e ficar a olhar fixamente. Vários rapazes abordam-me para me perguntar a nacionalidade das mais diversas formas: Country? Address? Nationality? Where from? Alone? O motorista do autocarro oferece-me um chá e com um tom de orgulho apresenta-me à plateia como amigo dele.
O barco chega e embarcamos. Mais uma travessia e mais alguns km até ao novo ferry. Percebo as 4 ou 5 horas e duvido que consigamos.
Novo cais, nova espera pelo ferry. Aqui conheço um rapaz que vai de moto para kuakata e oferece-se para me levar "faster than bus". Já só faltam 25 km e de moto posso parar quando quiser para tirar fotos. Aceito e apanhamos um barco mais pequeno que tranporta passageiros e motos, sem ter que esperar pelo ferry dos carros.
Montado em cima da moto sabe-me bem ter saído daquele autocarro lento, lotado e húmido. Paramos para tirar fotos e reparo numa nuvem negra que se aproxima. Não passam sequer 5 minutos e começa a chover torrencialmente. A monção na sua fúria máxima. Guardo tudo o que é electrónico dentro dum saco estanque. Visto o impermeável para perceber que não é assim tão impermeável. Foram necessários apenas mais 10 minutos para ficar completamente ensopado. A estrada, agora de terra batida torna-se um lamaçal e tenho que sair da mota para não atolar... porque é que não fiquei no autocarro...

leituras: Alvin TOFFLER "Future Shock"

8 comments:

  1. Irmãozinho!
    Eu a pensar que já tavas plo algarve de "abalada" pás áfricas e afinal tás na Índia...
    Continua com essa boa vibra!
    E...boa viagem!
    E..."aquele" abracinho.
    Miguel Neto @ BCN

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  2. Por vezes o caminho mais perto pode tranformar-se no mais longo :P
    folgo em saber (mais) desta aventura..
    vou continuar atenta :)

    Thanks 4 the postcard*
    Kiss

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  3. zé cabeços um grande abraço, estou a gostar da tua viagem, muito bom mano porta-te.

    ass: niggaz

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  4. Paixão do meu coração!!
    Tenho-me deleitado a ler cada palavra que escreves... Em certos parágrafos tenho a sensação de estar contigo dentro da cabine do comboio, num café qualquer, numa festa de feriado, ou até mesmo a conduzir a mota que te dá boleia!
    Muitos beijos, muitas saudades, e, por favor nunca pares de nos oferecer estes souvenirs!

    Mana Rita Estanislau

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  5. Olá Ricardo! Sou a Rachel, amiga da Mariana, Camila e Matheus... Mariana me passou o link do seu blog e qual não foi minha surpresa de encantar-me absolutamente com suas fotos e textos!
    Adorei... Continue atualizando com as novidades da viagem e saiba que ganhou uma leitora fiel!

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  6. Oi Ricardo!Ah é incrível maravilhoso... esta é realmente uma aventura...Just carry on :)
    beijos

    Theophilia (Couchsurfer)

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  7. Adorei as fotos e o teu díario de bordo.
    Vou continuar a acompanhar a tua viagem está a tornar-se cada vez mais espiritual!
    Não nos conheçemos mas temos um amigo em comum e foi assim que conheci o teu blog!
    Pelo caminho mais longo será sempre mais duro mais difícil mas também mais memorável e marcante, tornando o conhecimento de nós próprios mais profundo.

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